Presença (2025) - Análise

 

imagem do filme presença
 
Tive conhecimento do filme Presença através das redes sociais, mais especificamente o Instagram, onde a maioria para não dizer todos os comentários eram negativos em relação ao filme, e exatamente por essa razão resolvi assistir, para entender a razão das pessoas não terem gostado tal como ter a minha própria perspectiva acerca da obra, alguns meses depois, resolvi assistir.

O filme trás uma proposta bem interessante, normalmente estamos acostumado a assistir filmes de terror sobrenaturais onde assistimos aos personagens serem assombrados ou manterem contato com alguma energia/espírito através de uma brecha entre o mundo material e o mundo espiritual, porém no caso de Presença vemos a narrativa da perspectiva da própria entidade flutuando pelos cômodos.

O filme do diretor Steven Soderbergh é bem leve no quesito ação, chega a ser sutil se tratando de terror, pois os acontecimentos se dão de uma forma espontânea e natural, como nosso dia a dia na realidade, porém a forma como as coisas vão acontecendo no decorrer da trama, e a influência do espírito na mesma é algo que vai tomando um ritmo um pouco mais acelerado, o suspense e, principalmente, o drama permeia a obra. 

Temos uma família que chega em uma casa, os mesmos estão de mudança (soa clichê), inicialmente tive uma visão do filme um pouco parada, pensei que o mesmo talvez não tivesse uma boa história, mas ele segue o seu próprio ritmo, quase como se a entidade, ou melhor, o espírito tivesse o controle sobre o que acontece, até mesmo o ritmo que as coisas se sucedem.

Ao conhecer melhor sobre os personagens, fica evidente que o casal - Chris e Rebecca -  tem problemas conjugais, enquanto a esposa é mais voltada para um lado racional, o marido tem um enfoque no lado emocional, cuidando da estabilidade da relação dos membros da família e se vendo sobrecarregado por conta de sua filha, que parece sofrer de depressão (o que não é dito explicitamente no filme), por ter perdido sua amiga que faleceu de overdose, logo fica claro que o espírito que está na casa, ou melhor, acompanhando Chloe  se trata de sua amiga. 

Porquanto o seu irmão Tyler Payne claramente possui um temperamento difícil, o que gera conflitos inicialmente, porém não se trata meramente de conflitos quaisquer, acontecem em momentos simbólicos, tais como na janta e em refeições. O uso de substâncias, tais como medicações e álcool é proeminente no filme por parte dos jovens o que parece, de alguma forma, alimentar aquela presença.

Algumas pessoas visitam a casa, primeiro um amigo de Tyler, que não conhecemos muito bem pois no desenrolar da trama, Ryan não tem muita participação, o que se justifica do meio para o fim do filme, ao vermos que suas intenções não são tão benignas, o que a presença busca avisar e até mesmo interferir, protegendo Chloe de Tyler de uma forma que, se enxergássemos o filme da perspectiva da personagem, veríamos a situação de uma forma completamente diferente.

Esse é ponto mais interessante da obra, a forma como que os fenômenos do espírito se manifestam através de brechas, coisas cotidianas, acidentes como uma estante ou um copo que cai no chão, em Presença cada ação é prosseguida de uma reação que gera outra ação e assim por diante, e podemos saber exatamente qual ação gerou determinada reação conforme as coisas vão acontecendo. É uma relação com o tempo, a própria Rebecca fala que Chloe precisa apenas de tempo para se estabilizar, e esse tempo se apresenta de uma forma não linear, entre cortes de cena, sempre da visão da presença ali.

 

(Em alguns momentos esquecemos que ela está lá, abaixo o trailer do filme)


Após perceber o que estava acontecendo, Chloe relata para os pais sobre os acontecimentos paranormais na casa, e explica para os mesmos não ser algo negativo, mas um fenômeno ao qual não se pode explicar de uma forma racional, pois a mente humana não seria capaz de compreender em sua totalidade o abstrato desse outro mundo, uma presença que vive em uma realidade sobreposta a realidade material, o que empolga a Chloe e o pai, porém parece assustar a mãe e Tyler.

Em determinado ponto as coisas começam a fugir de controle, no que Chris decide chamar uma conhecida que tem conhecimentos acerca do esotérico, no que tange ao espiritual, o que não agrada Rebecca, de forma cética encara tudo como bobagem, o casal - não pude deixar de lembrar dos Warren - visita a casa, e a sensitiva sente uma presença na casa, constatando que se trata realmente da falecida amiga de Chloe.

A partir desse momento, as coisas começam a tomar um rumo mais sombrio, a presença parece começar a reagir de forma diferente pelo fato de ter sido percebida pela sensitiva. Então começa acontecer um tipo de choque, no que uma sucessão de eventos não muito agradáveis começam a ocorrer, o amigo de Tyler tenta sedar Chloe, em uma ação na qual constatamos suas intenções diabólicas, em seguida, ele não apenas tenta, como consegue sedar Tyler, fazendo o mesmo em seguida com Chloe no intuito de matá-la, a sufocando com um plástico filme.

No auge de sua energia, a presença consegue acordar Tyler, que salva a irmã empurrando o amigo pela janela e caindo com o mesmo, ambos falecendo, acontecimento esse que já ocorreu, em um cena anterior a sensitiva avisa sobre um presságio que envolve uma janela trancada.

A mesma janela que parecia impedir o espírito da amiga de Chloe de se libertar, já que a mesma consegue se desapegar no momento em que Tyler morre, esse ficando em seu lugar, em uma troca equivalente entre corpos e almas. 

Não entendi ao certo a razão por tantos não terem gostado do mesmo, perspectivas, há filmes aclamados que não despertam minha atenção, nesse caso foi o contrário, e gostei do filme, da maneira como o mesmo nos trás uma sensação de haver algo que transcende a realidade material, o poster do filme, uma fotografia da família em frente a casa em negativo ressalta isso de uma forma semiótica, nos trazendo o inverso da realidade material, não negativo, mas inversos da perspectiva dos personagens.

Presença (2025) - Análise
Os acontecimentos se dão no tempo certo, como se contemplássemos um pequeno ponto de tinta inicialmente, para contemplar a pintura inteira ao final, porém não de uma forma única, uma pintura na qual, sob determinada luz, há algo oculto, uma realidade assim como a nossa, porém, de uma forma que não compreendemos, a não ser em nossas imaginações.

Filmes como Atividade Paranormal (2007) soam parecidos, a ideia da percepção não em primeira pessoa, mas em uma terceira pessoa, além de uma terceira dimensão (temporal), a perspectiva de primeira pessoa dessa realidade sobreposta, acausal e atemporal, porém Atividade Paranormal e Presença se distinguem bastante, enxergar os personagens através dos olhos do espírito é uma visão não simbólica, mas literal da perspectiva de um mundo espiritual em relação ao mundo material.

Uma experiência, como todas, subjetiva, explorando as infinitas possibilidades, dentre apenas uma, que através de uma brecha no espaço-tempo, fantasmagoricamente, se materializa. 

  

 Por: David Alves Mendes | Mortalha Cult

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem