Videoclipes que exploram o horror como linguagem visual | Virtual Imageria

  
 

O terror não vive apenas nas telas do cinema, em nossas cabeças ou nas páginas de livros obscuros. Ele também habita os videoclipes — e muitas vezes com um impacto ainda mais visceral, já que música se trata de vibração, é como evocar sensações mistas emanadas da "energia que o artista manipula", por vezes, permeadas por uma imagética bizarra e sinestesia. 

Enquanto a música nos guia pelo som, as imagens ganham vida de uma forma quase que onírica, uma ambientação que, em conjunto com a música, pode embalar e criar uma atmosfera "extasica" para quem gosta do gênero, ou aquele arrepio que percorre a nossa espinha para quem não é chegado no horror.

Ao longo das décadas, artistas de diversos estilos usaram elementos do horror para contar histórias perturbadoras ou criar atmosferas sinistras. Neste artigo, listamos videoclipes que transformaram o horror em linguagem visual, expandindo os limites do que se espera da música pop/industrial, underground ou alternativa e trazendo um novo horizonte, onde sempre é noite, mesmo sendo dia e a sensação é de estar sonhando acordado em um tipo de pesadelo estranhamente agradável.

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Sinestesicamente seria como ouvir um filme de terror, afinal, quando escutamos uma música ou vemos um clipe repetidas vezes - geralmente nossos favoritos - os mesmos ficam armazenados em nossa memória associados a emoções que temos enquanto contemplamos as obras, logo, o simples fato de ouvir uma música, se atrelado a imagética da mesma, é possível evocar tais imagens em nossa mente, tal como as sensações que o clipe e a música trazem. 



1. "Come to Daddy" – Aphex Twin (1997)

Sob a direção de Chris Cunningham, esse vídeo se assemelha a um pesadelo industrial. A aparência distorcida, o cenário urbano em ruínas e as crianças com o rosto do próprio Aphex Twin oferecem uma vivência que é inquietante do começo ao fim. A faixa já é intensa, mas são as imagens perturbadoras que realmente permanecem com você depois que a tela fica preta.


2. "Rubber Johnny" – Aphex Twin (2005)


Sim, Aphex Twin de novo. E isso não é por acaso. “Johnny de Borracha”, também sob a direção de Chris Cunningham, é um curta que vai além do típico videoclipe. Neste, observamos uma figura deformada, presa em um ambiente escuro, apresentando uma sequência claustrofóbica, estranha e cativante. A estética de imagens encontradas e as ações rápidas provocam um desconforto genuíno.

3. "Bury a Friend" – Billie Eilish (2019)

Neste caso, o horror aparece de maneira mais sutil e estética. Billie Eilish se move por passagens escuras, com olhos sombrios e agulhas perfurando sua pele enquanto interpreta uma canção que já possui, em sua essência, uma tensão desconcertante. É o terror psicológico em versão pop, explorando o surreal e o grotesco, mas mantendo seu apelo comercial. 

Como sendo um pessoa sinestéstica, Billie consegue utilizar não somente da sonoridade ou do clipe em si, porém, da mistura de ambos, um embalo de sensações onde o ouvinte mergulha em um espectro vasto provindo de apenas uma linha, uma frequencia, cuja vibrações é oscilante, não entre dois lados (como caixas de som), mas como em uma ambientação holográfica.

Tudo em nossa própria mente, misturando os sentidos, literalmente mergulhando em si, e consequentemente, no som, que reverbera das mais diversas formas. 


4. "Closer" – Nine Inch Nails (1994)


Chocante e desafiador, este clipe, concebido por Mark Romanek, combina elementos religiosos, científicos e sexualizados em um cenário que remete a um laboratório abandonado no submundo. A filmagem crua e os efeitos práticos estabelecem um clima que se assemelha a um ritual visual de invocação.


5. "Sweet Dreams (Are Made of This)" – Marilyn Manson (1995)

 

Ao reinterpretar a canção clássica dos Eurythmics em uma marcha macabra, Manson criou um espectro visual grotesco, rural e surrealista. O clipe é composto por imagens de cavalos abatidos, ambientes abandonados e deteriorados, o artista montado em um porco como se fosse um cavalo, velas figuras distorcidas e uma estética de pesadelo febril que o tornou um símbolo do terror na música dos anos 90, soa como um pesadelo gravado.

A abertura do clipe já gera uma sensação de estranheza, com Manson posicionado de uma forma assimétrica diante da câmera, com uma vela e os integrantes atrás, em uma imagética que faz aquilo parecer algum tipo de invocação ritualística antes da música iniciar, o absurdismo é omnipresente na obra.

6. "The Beautiful People" – Marilyn Manson (1996)


Manson surge mais uma vez, desta vez em um clipe que se assemelha a um desfile grotesco de estranhezas industriais. A maquiagem excessiva, os ângulos deformados e a filmagem granulada criam uma atmosfera de manicômio distópico o qual queremos visitar não para internar-se, mas para prestigiar o show.

Não como uma sátira, mais como uma crítica na mesma medida em que soa como um expurgo, cuspindo formas pensamento bizarras — uma comemoração da monstruosidade humana, como em boa parte de seus clipes, principalmente os mais antigos, como Sweet Dreams que foi citado acima.



7. "Oblivion" – Grimes (2012)


À primeira vista, não parece um vídeo de terror, mas a sensação de desconforto está presente. "Oblivion" aborda um trauma — fazendo isso com imagens que parecem inofensivas de Grimes em meio a multidões e estádios esportivos. O sorriso tenso e o contraste entre a música etérea e o ambiente masculino agressivo transformam o clipe em uma metáfora silenciosa sobre medo e fragilidade.

8. "All is Full of Love" – Björk (1999)

 


Este é um exemplo de como o terror pode emergir do que é estranho e de uma estética gelada. Robôs sensuais e emotivos se beijam em um laboratório limpo, em um clipe que combina erotismo e tecnologia de forma intrigante. 

O horror aqui não é evidente, mas reside nos limites do que se considera "humano" e no desconforto causado por uma cena de carinho entre máquinas, atualmente é comum viver em meio a máquinas e imagino como será conviver com androides semelhantes ao ser humano, ao ponto de terem (ou emularem) emoções, ao posso de não conseguir distinguir.

O conceito do clipe me lembrou o segundo episódio da primeira temporada de Black Mirror, chamado "Be Right Back", que trata questões como o luto e um legado digital, construído por meio de bancos de dados que permitem replicar (e por que não dizer clonar ou ressuscitar) um ser humano com base em algoritmo.

Isso após sua morte, em um corpo com pele sintética que não sangra, um robô não apenas realiza funções de casa, mas soa como um marido realmente diante da viúva, chegando a fazerem sexo, porém ela percebe que não é a mesma coisa, ou melhor, é uma coisa, só não é a mesma pessoa, em um terror distópico.


O terror como expressão visual: por que é tão eficaz?
 
 

 

clipe ribber johnny - aphex twin
 

Os videoclipes têm a capacidade de resumir conceitos em breves momentos. Quando o terror aparece, intensifica sentimentos que a música por si só pode não conseguir evocar. Através do uso da iluminação, a escuridão, criaturas, distorções gráficas, espaços clautrófobicos ou metáforas psicoemocionais, esse estilo encontra nos videoclipes um espaço privilegiado para se transformar.


E o mais fascinante: esses filmes não precisam de sustos previsíveis. Muitos deles exploram o desconforto, o surrealismo, o grotesco e até mesmo o silêncio para gerar experiências que ficam na memória. Uma expressão do que o artista está pensando ou sentido naquele momento. 

Portanto, na próxima vez que você analisar novas melodias, não se esqueça de olhar para a tela. Você pode estar a poucos cliques de um novo pesadelo tanto visual quanto sonoro, mas fala aí para a gente, qual o primeiro clipe que vem a sua mente quando o assunto é terror? 

Deixe nos comentários, a vida sem a música seria um grande erro, como já disse um filósofo incisivo. Faremos outras postagens posteriores a essa, esse é o primeiro post de um selo do Mortalha chamado Virtual Imageria.

 

 Por: Alessa & David Alves Mendes| Mortalha Cult

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