Assisti
esse filme inúmeras vezes, não apenas pela obra em si, mas também pelos
jogos da franquia Silent Hill, cuja ambientação me causavam arrepios -
causam até hoje. Escrevi a análise no início de Agosto de 2014 no antigo
Blog Mortalha, ao assistir novamente ambas as obras cinematográficas
depois de mais de uma década, decidi acrescentar uma nova perspectiva
aqui no Mortalha Cult.
[...]
Silent Hill (Terror em Silent Hill, no Brasil)
foi (e é) um dos poucos filmes que assisti em que realmente mergulhei na atmosfera do mesmo, assim como a série Marianne, a qual já publiquei uma análise aqui no Mortalha Cult - confira clicando aqui - o filme já começa sem enrolações, logo de cara nos mostrando a profundidade do caos em que iremos mergulhar assistindo aquele filme.
O aspecto onírico dessas obras, saber o que de fato é
e não é real, a mistura entre o passado, o presente, e o futuro, tal
como a presença de algo transcendente à matéria são temas que despertam
sensações ao qual não conseguimos bem definir ou descrever.
A obra foi dirigida por Crhisophe Gans, que soube captar bem a essência dos jogos,
tratando-se de cenário e narrativa, Terror em Silent Hil não segue a
mesma cronologia que os jogos, que possuem finais alternativos, porém o
filme se mantém fiel aos jogos fazendo alusões à franquia.
Não é um terror clichê com uma história slasher
mal
planejada onde o vilão persegue os mocinho, os matando um por um de
forma sangrenta, é um terror
realmente psicológico, assim como sobrenatural, se assim preferir (já
que não há como definir a ambientação sombria) onde o filme vai se
desenrolando aos poucos sem
perder o foco e trazendo a cada cena mais obscuridade e aberrações sob as cinzas que envolvem Silent Hill.
Cena da segunda aparição de "Pyramid Head" no filme, quando o alarme nuclear soa e todos correm para a igreja, porém, ele exige um sacrifício, uma das criaturas mais populares do universo Silent Hill juntamente com as "enfermeiras".
O
início por si só há é visualmente impactante, nos deixando confusos -
sensação essa que parece permanecer durante toda a obra, uma mescla
entre estar sonhando e acordado, é exatamente a ideia, o que enxergo na
obra é uma representação do que seria o inconsciente humano.
Recheado
de formas pensamento com as mais diversas formas, assumindo facetas
diabólicas diante de situações traumáticas ao qual a dissociação soa
como consolo.
Com um roteiro bem elaborado, o filme conta a história de uma garota chamada Sharon, que sofre com problemas relacionados a sonambulismo. Enquanto dorme, a mesma realiza ações inconscientemente e sempre fala o nome de um lugar chamado Silent Hill.
Como o tratamento do problema da garota não estava mostrando resultados, Rose, a mãe da mesma, decide levá-la até onde parece ser a fonte do problema, Silent Hill, uma cidade fantasma que foi destruída por um misterioso incêndio.
O que Rose não imagina é que a cidade de Silent Hill guarda segredos bastante sombrios relacionados à sua filha, e que os mesmos se converterão nos maiores medos e no pesadelos das duas.
A primeira dimensão de Silent Hill
se encontra em suas ruas, onde tudo parece calmo, abandonado e vazio,
gerando uma sensação de estar em um limbo suspenso, e até mesmo fora do
tempo, se não fosse pela conectividade que se há com o "outro lado" que
seria o mundo real através da radiação (ondas de rádio).
Já a segunda
dimensão de Silent Hill é um pouco menos calma, ela se passa no
interior dos prédios da
cidade fantasma, onde são tomados por uma escuridão profunda habitada
pelas mais grotescas criaturas, essas por sua vez parecem ter saído de
pesadelos ou traumas, e é exatamente sobre isso que Silent Hill fala,
dores e traumas, as criaturas são representações humanas (ou
diabólicas), porém me aprofundarei nessa questão mais adiante.
Sabemos que essa escuridão se aproxima por conta de um alarme nuclear que soa durante o filme, mesclando-se à sonoplastia que se linka bem ao filme.
RUAS DE SILENT HILL
INTERIOR DE SILENT HILL
BASTIDORES DE SILENT HILL
A trilha sonora não fica para trás, esse
detalhe radioativo (ondas de rádio, lembra?) faz toda a diferença, vemos com o passar do tempo diversas
playlists no youtube com a temática Silent Hill, usando de trechos e da
própria trilha sonora sobrepostos com o som das chamas que ardem no
subsolo da cidade, som esse que lembra chuva, que alguns ouvem para
dormir - ironicamente exatamente o que o filme retrata, o inverso, para quem é fã
dos franquia de games, o som soará familiar. Não há como descrever a sensação que as ondas passam.
Solitude of The Night | Silent Hill Inspired Ambience
Silent Hill Ambient | 3 Hours of Relaxing Music
O
filme também conta com efeitos especiais de ponta para a época,
tornando a experiência tão surreal quanto um pesadelo se passando diante
dos olhos, e assistindo mais uma vez, é perceptível o quão tais efeitos
ainda geram uma sensação de desconforto, afinal, é Silent Hill, a única coisa que podemos esperar é o caos onírico - latente e (i)manisfeto - que é omnipresente.
Algumas das cenas contam com
criaturas e elementos bizarros que alimentam ainda mais cenário
macabro, os diálogos não são muito extensos a não ser os de Alessa, que
aos poucos vai contando a sua história, para ao final, levar a luz à
Rose que caminha entre o branco e o preto do colorido do filme.
Silent
Hill é um filme cinza com cores, uma linguagem das sombras na qual
conseguimos enxergar o que está sendo dito na medida em que nos
acostumamos nossos olhos à escuridão, quando o alarme nuclear soa, é
como um gatilho que nos prepara para a radioatividade.
Se trata de uma inversão do todo - da ordem, da
lógica, da forma, e da lógica por completo. Mas sem fugir, se trata de
uma distorção sensorial, uma representação disforme de uma realidade
decadente, na qual só vemos trevas.
Sobre
essa visão psicológica acerca das criaturas, como falei anteriormente,
são implícitas ao filme, o diretor busca deixar pontas soltas para que o
próprio telespectador faça as suas correlações, o que é mais simples
para quem conhece os jogos, o que vemos são monstros, mas não são meras
fantasias, são fantasias que vestem humanos que "do outro lado" vestiram tais fantasias.
Bullyng,
abuso, violência, hipocrisia, fanatismo, ódio e assassinato são o que
algumas dessas criaturas - que um dia foram humanas - se tornaram. Ao
final do filme, quando Rose finalmente consegue chegar até à porta que
leva até Alessa.
No
objetivo de resgatar Sharon, ela consegue enxergar a luz em meio a todo
aquela escuridão, vendo que ambas podem coexistir não lado a lado, mas
sobrepostas, após atravessar limites inconcebíveis ela não apenas
compreende.
Como
sente o ódio de Alessa e as raízes do mesmo, toda a dor e o sofrimento
passado pela garota, a forma como o mesmo se canalizou,
materializando-se em una energia maligna que se alimenta do que a
machucou. Não sendo nenhum tipo de vilã ou heroína, apenas um ser humano
imperfeito vivendo entre outros seres humanos imperfeitos que encarou
os lados mais obscuros da vida, não suportando a dor e o sofrimento,
passando a alimentar-se dos mesmos.
Após
isso, Rose consegue dominar as sombras, que parecem ser tudo o que
existe ali, e sabe exatamente o que fazer. Existem outras nuances e
detalhes, tal como Sharon ser a filha de Alessa, a parte boa encarnada
que restou da mesma, a mãe biológica de Sharon e uma seita bizarra
responsável por toda a desgraça que assolou Silent Hill - atribuída
erroneamente à Alessa, essa, por sua vez, um efeito de tudo aquilo, e
não a causa.
Silent
Hill é um dos filmes que recomendo obrigatoriamente para os fãs de
terror, principalmente os gamers (que devem lembrar bem da franquia de
jogos Silent Hill, produzida pela Konami). O filme possui uma sequência
chamada Silent Hill: Revelação, que foi lançada em 25 de outubro
de
2012, em minha perspectiva, não tem o mesmo ritmo e intensidade do
primeiro, porém, possuí a mesma essência, trazendo Sharon já crescida e
ainda assombrada pelos pesadelos de Silent Hill, só que dessa vez como
protagonista, acordada, e de olhos bem abertos, reservarei um post para
escrever apenas sobre essa sequência.
Confiram o trailer de Terror em Silent Hill:
Alerta:
Importante ressaltar que filmes de terror merecem ser assistidos
durante à noite e com a luz
apagada para uma atmosfera mais "adequada". E nesse caso em específico,
faça uma higiene do sono antes de dormir, do contrário, assista por sua
conta e risco, até a próxima. Divirta-se
Por: David Alves Mendes | Mortalha Cult ©








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