O que ocorre quando o som se ausenta? A pressão se intensifica. O pulso se acelera. O público contém a respiração. E é exatamente nesse momento que o medo encontra um ambiente ideal para florescer.
Com certeza já deve ter assistido algumas cenas assim, permeadas por um "silêncio gritante".
Quando o vazio ressoa mais que tudo
Diferentemente
do que muitos acreditam, o silêncio não é sinônimo de total ausência de
elementos. No terror, ele é meticulosamente elaborado. É aquele instante em que os passos cessam, a música desaparece e os sons ao redor se dissipam.
O que sobra é a antecipação, e essa antecipação é uma ferramenta poderosa. O silêncio prepara o cenário para o que pode — ou pode não — ocorrer. Ele força o espectador a preencher o vácuo com sua própria inquietação.
Filmes como Um Lugar Silencioso exemplificam de maneira marcante como o som, ou melhor, a sua falta, pode ser convertido em uma narrativa. Na ausência de barulho, qualquer som diminuto se torna uma ameaça.
Um
galho se partindo. Um murmúrio. O rangido de uma madeira. O silêncio
estabelece um jogo psicológico que requer atenção total, tanto do
personagem quanto dos espectadores.
Silêncio como ferramenta de ritmo
Um
outro ponto relevante do silêncio no gênero de terror é sua função na
criação do ritmo. Em uma cena carregada de tensão, o silêncio diminui o
ritmo, estabelecendo um tipo de vazio emocional. É como a subida lenta
de uma montanha-russa, onde o único som é o do carrinho engatando nos
trilhos. A descida pode estar a caminho — ou pode não estar. No entanto,
a sensação de desconforto já se instalou.
Esse recurso também serve para quebrar expectativas. Me lembra uma cena de Psicose, a fatídica cena do banheiro onde o que está acontecendo não é mostrado (o diretor Ari Aster também faz uso dessa técnica em Hereditário), o que faz nossa imaginação trabalhar enquanto apenas ouvimos.
No exemplo acima não há o silêncio, mas na analogia, em ambas as situações a imaginação se faz presente. Estamos tão habituados a ver os famosos jumpscares acompanhados de ruídos repentinos que, quando o terror se revela em silêncio, somos pegos de surpresa. O medo aparece devagar, rastejando pelos cantos da cena, de forma silenciosa, até que seja tarde demais para agir.
O som da nossa própria mente
Um dos aspectos mais aterrorizantes do silêncio no terror é o espaço que ele cria para que o espectador escute a si mesmo. Em um ambiente sem sons externos, os barulhos internos se tornam mais evidentes. A respiração ofegante, o coração acelerado, a tensão nos músculos — tudo isso intensifica a experiência sensorial.
O
silêncio provoca uma imersão psicológica que muitos filmes barulhentos
não conseguem proporcionar, por essa razão eles costumam ser mais
marcantes, quem nunca ficou com um filme a noite inteira na cabeça? Ou
uma semana? Geralmente, esses filmes conseguem nos atingir não apenas
visualmente, mas psicologicamente, o famoso terror psicológico.
Além disso, o silêncio tem a capacidade de conectar o espectador ao personagem, quando
ambos se encontram no mesmo vazio sonoro, a identificação se torna mais
forte, como nos jogos em primeira pessoa, em determinado ponto estamos
tão imersos na narrativa que não existe quase diferença entre eu e o
personagem, afinal, o controlo, o assisto.
O medo do outro se transforma no nosso medo.
O que está fora do foco — invisível e inaudível — ganha uma força aterradora.
Menos é mais (muito mais)
A
utilização do silêncio no terror ensina sobre o minimalismo na
narrativa. Ao invés de se apoiar em estímulos constantes, ele investe na
sugestão, no sutil, no quase imperceptível, por vezes uma trilha sonora com uma frequência que a audição humana não é capaz de captar. Quando é utilizado de forma adequada, o silêncio não deixa nenhum vazio: ele o preenche com pura tensão.
Da
próxima vez que você assistir a um filme de terror, preste atenção não
só ao que você ouve, mas também ao que você deixa de ouvir, para com
audição é o mesmo com visão, muitas vezes deixamos elementos visuais
que fazem parte da trama e são colocados em determinadas cenas
sutilmente de propósito, nesse caso é o som, ou melhor, a ausência dele,
em algumas cenas diz mais que qualquer palavras.
Seja uma cena em uma floresta durante o dia com amigos ou atravessando um corredor escuro sozinho durante a noite, em alguns pontos chave de uma boa narrativa de terror, nenhuma sonoplastia substituiria o silêncio.
Frequentemente, é nesse silêncio que o medo se esconde — e quando decide se manifestar, já pode ser tarde demais para fugir.
Por: Alessa & David Alves Mendes| Mortalha Cult



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