Imagine-se
prestes a ver um filme de terror. A atmosfera e está preparada:
ambiente escuro, fones de ouvido ou volume alto, e aquele lanche, mas ao
invés da emoção esperada, a narrativa parece... sem graça. Cortes
bruscos, cenas que claramente foram suavizadas, finais que não têm
lógica. Você percebe que algo está em falta. E, na maioria das
situações, realmente está: censura.
O medo que transcende a tela
O terror sempre foi um gênero que provoca incômodo. Ele toca em feridas sociais, aborda tabus e revela o que preferimos ignorar. Por isso, tantos filmes, livros e jogos de terror frequentemente se tornam alvo de censores pelo mundo afora. Às vezes, é a brutalidade explícita; outras, são as mensagens subjacentes das narrativas que geram desconforto — pois o verdadeiro horror, aquele que persiste em nossa memória após os créditos, geralmente possui um fundo bastante realista, nos fazem refletir de uma forma intensa, soando até mesmo chocante.
Filmes como Holocausto Canibal (1980) e A Serbian Film (2010) se tornaram icônicos não apenas por seu conteúdo chocante, mas também porque foram banidos, censurados e continuam a ser discutidos até hoje. A censura, nesse contexto, acabou por transformar essas obras polêmicas em objetos de culto desejados. Mas de onde vem todo esse receio?
O que querem esconder de nós?
A censura no gênero de terror frequentemente revela mais sobre aqueles que aplicam a censura do que sobre o que está sendo censurado. Quando um filme é alterado ou proibido, a justificativa dada quase sempre é “proteger o público”. Mas proteger de que, exatamente? De imagens fictícias perturbadoras? De ideias arriscadas? De críticas sutis a instituições, religiões e governos?
Existem obras que utilizam o horror para expor abusos, genocídios, desigualdades e insanidades políticas. Películas como Eles Vivem (1988), de John Carpenter, que aborda o controle social por meio de uma história alienígena, ou O Babadook (2014), que lida com luto e depressão, demonstram como o terror pode ser uma ferramenta eficaz para discutir questões do mundo real.
É aqui que reside o problema. Quando o medo revela verdades incômodas, ele se torna ameaçador — e, para muitos, precisa ser silenciado.
Terror censurado é terror amplificado
Curiosamente, quanto mais uma obra de terror é restringida, mais ela chama a atenção. Esse é o conhecido “efeito do proibido”. O que é oculto adquire uma espécie de aura quase mística, um charme irresistível. As pessoas sentem vontade de descobrir o que está sendo encoberto e o porquê disso. Quem nunca ficou intrigado com uma versão sem cortes de um filme que foi proibido?
A censura, de forma inconsciente, frequentemente atua como uma forma de marketing gratuita para produções que poderiam passar despercebidas. O que era considerado marginal, se torna cult, e não no sentido de cultuar, mas algo estereotipado. O que era “intolerável”, se transforma em um tema de análise. Porque, no final das contas, o terror censurado também aborda o medo do poder.
O horror de viver às escuras
Na ilustração, uma cena do filme Requiem for a Dream (2000).
A
censura no terror não se restringe apenas a sangue ou sustos. Trata-se
de restringir a vivência humana de enfrentar seus próprios demônios.
Quando se nega ao público o direito de observar esse reflexo distorcido
que é o horror, o que resta é uma narrativa sanitizada, sem força, sem
essência.
Talvez a questão verdadeira não seja “por que censuram o
terror? ”, mas sim “o que o terror está tentando nos revelar que tanto
querem esconder? ”. Pois, por vezes, o que está por trás da tesoura da
censura é mais aterrador do que qualquer filme.
Por: Alessa | Mortalha Cult




Postar um comentário